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MEIOS NATURAIS PARA CONTROLAR A QUALIDADE DA ÁGUA DO AQUÁRIO


MEIOS NATURAIS PARA CONTROLAR A QUALIDADE DA ÁGUA DO AQUÁRIO




Quando montamos o aquário, a água mais comum de ser usada é a de torneira ou em alguns casos a água mineral. O pH dessa água pode variar de acordo com a região ou com a fonte de origem. Porém, quando colocamos essa água no aquário, sua composição química pode ser rapidamente alterada pelo cascalho, pedras ou enfeites que haja dentro desse, já que esses podem ser lentamente dissolvidos, liberando substâncias químicas em quantidades variadas na água. Essas substâncias podem alterar o pH, a dureza da água ou, em última instância, causar um efeito tampão, que tende a deixar o pH "travado" num valor determinado, de acordo com as substâncias químicas presentes e suas devidas quantidades.
Assim, é sabido que a dolomita, o cascalho branco comumente utilizado, tende a alcalinizar a água. Isso é devido a dissolução de alguns sais presentes nessas pedras que elevam o pH e tamponam esse em um valor elevado. Cada vez que se tenta baixar o pH de um aquário com dolomita com algum corretivo acidificante, o pH é temporariamente alterado, mas em menos de 24 horas retorna a seu valor anterior. Não só o corretivo foi em vão, como os peixes sofrem um choque de pH na baixa, e no retorno tão brusco do pH a seu valor inicial.
Desse exemplo fica a lição de que para montar um aquário é preciso escolher as espécies de peixes que vão habitar o mesmo com antecedência para escolher o cascalho e outros ornamentos que vão ficar no mesmo levando em conta as características da água desejadas. Como explicado no item blábláblá, os peixes são diferentes, têm origens diferentes, e vivem bem mais tempo e são mais saudáveis quando colocados em uma água compatível com aquela de origem da espécie.
Existem no mercado tamponadores (buffers) de excelente qualidade, que ajudam a levar e manter o pH a valor determinado, ideal para o conjunto de peixes de um determinado aquário, mas mesmo esses produtos têm seus limites, e funcionam melhor quando o aquário foi previamente planejado.
Na prática, as categorias em que os peixes são divididos são quanto à temperatura e quanto ao pH e/ou dureza.

Quanto à temperatura, os peixes podem ser:

Água fria: peixes que vivem à temperatura ambiente mesmo no inverno. Não necessitam de aquecimento na água, e esse pode ser até prejudicial, quando relacionado a reprodução, já que a maioria desses peixes é sazonal e o "gatilho" para a reprodução é justamente a mudança de estação. Exemplo: kyngyos, carpas e dojó;

Água temperada: algo entre 21º e 27º C. Nessa faixa se encontra a maioria dos peixes ornamentais comumente encontrados. Exemplos: espadas, colisas, ciclídeos africanos.

Água tropical: Aí são encontrados principalmente peixes amazônicos, que vivem muito bem em temperaturas entre 28º e 32º C. Exemplos: neon, acará disco, acará bandeira.

Quanto ao pH (que está intimamente relacionado com a dureza, no aquário), os peixes podem ser divididos em:

Água ácida: São peixes que vivem bem em água com pH ao redor de 6,0, ou até inferior. Os exemplos mais típicos dessa categoria são os disco e neons.

Água ligeiramente ácida: algo entre 6,6 e 6,9. Nessa categoria entram diversos peixes das bacias brasileiras, como as coridoras, cascudos, ramirezi, e outros.

Água ligeiramente alcalina: algo entre 7,1 e 7,2. Nessa categoria se encontram muitos dos peixes da família dos poecilídeos, como espadas, platys e lebistes.

Água neutra: na verdade, essa categoria engloba também os peixes de água ligeiramente ácida e ligeiramente alcalina, já que esses podem ser facilmente adaptados em água neutra. Exemplo: paulistinha.

Água alcalina: Aqui estão, de novo, peixes mais exigentes, que não vão se adaptar tão bem se colocados em pH mais baixos, apresentando diversos sintomas de má adaptação, como os kyngyos, que apresentam veios de sangue nas caudas transparentes quando o pH abaixa muito. As molinésias também fazem parte dessa categoria, e vivem bem em pHs variando de 7,2 até pHs marinhos, acima de 8,0! Os ciclídeos africanos também são peixes de água alcalina, idealmente ao redor de 7,8. Nos lagos de origem desses peixes há uma quantidade muito grande de sais dissolvidos na água, e o pH é bastante elevado, sendo que o ambiente lembra mais um ecossitema marinho, do que um lago no centro da Africa. O lago Malawi na África parece um costão de mar. Procure no Google Images por Malawi Lake que aparecem fotos incríveis, eu recomendo.
Sabendo que precisamos planejar o aquário baseados nas espécies que vamos querer colocar no mesmo, vamos escolher os substratos.
Como dito acima, a dolomita funciona alcalinizando a água, e pode ser usada como substrato em aquários para peixes alcalinos, como kyngyos, molinésias, espadas e ciclídeos africanos. Um ponto que deve ser levado em conta em relação à dolomita é quanto a sua cor, em geral branca ou muito clara - como os peixes em geral são provenientes de rios e lagos com fundo escuro, isso serve como referência para eles, e o uso da dolomita sozinha como única cobertura do fundo pode levar os peixes a ficarem estressados pela luminosidade refletida pelo substrato. Assim, é recomendável usar uma parte de cascalho de rio comum na mistura, ou então enfeites escuros no fundo para quebrar um pouco esses efeito.
Outro substrato comumente usado no fundo de aquários de água alcalina são conchas moídas ou halimeda (o esqueleto calcáreo de uma alga marinha). Esse tipo de substrato é especialmente encontrado em aquários de ciclídeos africanos, aonde é comum encontrar também peças de coral usadas como enfeite. A aragonita também seria um substrato dos mais escolhidos para aquários de ciclídeos africanos, não fosse seu preço bastante elevado.
Em geral o cascalho de rio, a pedra rolada de rio, é o substrato usado em aquário para peixes de água ácida, neutra, ou levemente alcalina. A maioria desses cascalhos é quimicamente inerte e acaba não afetando o pH, além da vantagem de prover aos peixes um fundo escuro, e um ótimo substrato para as plantas.
Outros tipos de cascalho podem ser testados, sendo deixados por um período em um pequeno recipiente com uma água previamente testada, a qual é retestada após esse período para ver se houve alteração do pH. Esse método também pode ser usado com pedras que vão ser usadas dentro do aquário, ou com algumas que se desconfia estejam sendo responsáveis pela alteração do pH da água.
Dentre os enfeites naturais, é sabido que o tronco de arueira ajuda a amolecer a água e assim a queda do pH, sendo muito usado em aquários de peixes amazônicos. Outro condicionador usado para amolecer a água é a turfa, geralmente colocada em saquinho dentro do filtro ou em uma passagem de água.
Das pedras brutas, o ideal é perguntar ao lojista que as está vendendo se elas causam alguma alteração no pH, ou então testá-las como proposto acima.
Um aquário montado a algum tempo, especialmente se tiver filtro biológico de fundo, tem tendência a apresentar uma acidificação gradual da água, que não é causada por propriedades químicas das coisas usadas dentro do aquário, mas sim pelo acúmulo de sujeira em decomposição no fundo do aquário. Essa acidez não é saudável, mesmo para peixes de água ácida, pois indica o decaimento da qualidade da água, que pode, em grau extremo, ser o agente responsável pelo aparecimento de doenças. Esse efeito deve ser controlado pela manutenção frequente do aquário, sempre usando um sifão para penetrar no fundo e retirar os acúmulos de sujeira.