O Íctio é uma doença causada por um protozoário (Ichthyophtirius multifilis) presente no aquário. Peixes com escamas pequenas como Labeos e Botias são particularmente susceptíveis ao ataque deste parasito. Os primeiros sintomas da doença são respiração acelerada, vermelhidão das brânquias, pequenos pontos brancos na pele como se o peixe estivesse polvilhado com açúcar. Movimentos rápidos se esfregando em pedras e troncos também é um sintoma bastante comum.
Antes de prosseguir com o tratamento é interessante saber exatamente como o protozoário atua.
A doença possui três estágios distintos: trofonte, tomonte e teronte.
Os pontos brancos são visíveis na fase trofonte. Os pontos brancos são na verdade pequenas feridas na pele do peixe cavadas em seu caminho de dentro para fora. Abaixo de cada ponto branco existe um cisto contendo centenas de parasitos se multiplicando. Nesta fase da doença os medicamentos não surtem qualquer efeito.
Quando os cistos amadurecem eles se rompem liberando milhares de indivíduos da forma tomonte na água. Elas desenvolvem uma camada gelatinosa em seu redor assim que sai do cisto e se aderem ao substrato ou decoração de seu aquário e começam seu segundo estágio reprodutivo. Quando os tomontes estão maduros eles são libertados novamente na água (agora chamados terontes) e nadam à procura de um hospedeiro para dar continuidade ao ciclo. É somente nesta terceira fase que os medicamentos irão atuar.
* O tempo que dura cada uma das três etapas do ciclo acima depende da temperatura da água. Quanto mais quente, mais rápido é o ciclo.
O parasita, na sua fase de maturação, é relativamente grande (tendo para cima de 1000 µm), tem cor escura,
move-se com movimentos vibratórios e a sua taxa de reprodução é exponencial.
Figura 1: Ichthyophthirius multifilis
Apesar do seu tamanho relativamente grande, os pontos brancos não são propriamente imagens dos parasitas mas a presença de fungos que se aproveitam das feridas que ele provoca.
Figura 2: Dicrossus filamentosus atacado pelo parasita.
A entrada do parasita no aquário é normalmente provocada pela introdução de novos peixes sem quarentena e por descidas bruscas da temperatura que acontecem no Inverno. Por isso, é importante que se faça quarentena sempre que se introduza novos peixes no aquário e não se deixem ocorrer descidas repentinas na temperatura da água.
Para se combater a doença é preciso conhecer o ciclo de vida do parasita. Quando introduzido no aquário ou despoletado pela debilidade do sistema imunológico do peixe devido a descidas de temperatura, o cisto penetra a epiderme do hospedeiro e, nesta fase, desenvolve-se alimentando-se dele, deixando-o cada vez mais debilitado. Os pontos brancos aparecem entretanto provocados pelo aproveitamento dos fungos. Com o tempo o parasita penetra nas brânquias do peixe originando a produção de muco pelo sistema imunológico na sua defesa podendo levá-lo à asfixia. Nesta fase é muito difícil salvar os peixes pois estão de tal forma enfraquecidos que deixam de se alimentar e os cistos são resistentes a tratamentos químicos.
Ao atingir a fase adulta os cistos soltam-se do hospedeiro e voltam ao fundo do aquário envolvendo-se numa cápsula gelatinosa onde se multiplicam exponencialmente em poucos dias. Esta cápsula protege os novos cistos até estes estarem prontos para se soltarem e voltarem a atacar outros peixes, ou os mesmos que ainda não tenham morrido.
Figura 3: Ciclo do parasita.
É na fase em que está no fundo do aquário envolto na massa gelatinosa que o parasita tem um ponto fraco. A gelatina não consegue solidificar a temperaturas acima dos 28ºC e, se não a deixar solidificá-la, o parasita não consegue se reproduzir. Tem-se então o problema resolvido bastando para isso evitar que o parasita se reproduza mantendo a água do aquário acima dos 28ºC durante pelo menos 18 dias.
O controle do número de parasitas no hospedeiro pode ser reduzida através da aplicação de sal ou pelo uso de medicamentos existentes no mercado de aquariofilia à base de Verde de Malaquite mas sempre acompanhados pela subida da temperatura acima dos 28ºC. Os medicamentos disponíveis para tratar o Íctio no mercado mais efetivos geralmente são à base de formol, sulfato de cobre ou verde malaquita. Outros tratamentos que também surtem efeito usam o azul de metileno ou acriflavina.
No caso do sal a dose recomendada é de uma colher de sopa por cada 40 litros de água mas é preciso ter em conta que algumas espécies de peixes não o suportam (Corydoras e a generalidade dos Loricarídeos) e que as plantas aquáticas não toleram elevados teores de sal na água. Recomenda-se o uso de sal próprio para aquariofilia. O uso de medicamentos à base de Verde de Malaquite também só se recomenda em casos avançados da doença.
No entanto, em alguns casos, os peixes podem ainda não estar a salvo uma vez que no seguimento da infestação de Ichthyophthirius multifilis no aquário, os mais debilitados ficam vulneráveis a ataques de bactérias e fungos. Neste caso é necessário socorre-los com tratamentos químicos. O ideal será a retirada destes peixes para um aquário hospital e usar um medicamento de largo espectro que trate os peixes deste tipo de enfermidades.
Entre os diversos tratamentos possíveis aqui está uma sugestão:
1° dia do tratamento.
Eleve a temperatura da água gradualmente para 30°C (ou mais, se seus peixes aguentarem).
Faça uma Troca Parcial de Água (TPA) de 50% com sifonagem do substrato. Este procedimento já irá remover grande parte do protozoário de seu aquário.
Remova o carvão ativo de seu sistema de filtragem já que ele adsorve os medicamentos. Jogue-o fora pois ele também poderá conter o protozoário aderido a ele. Caso use Purigen, remova-o e proceda sua limpeza regular com água sanitária.
Tente aumentar a aeração do aquário seja colocando uma bomba extra de circulação ou baixando um pouco o nível da água para permitir melhor oxigenação. Peixes com Íctio ficam mais carentes de oxigênio.
Apague as luzes do aquário. Aplique a medicação na dose recomendada.
ATENÇÃO: No caso de peixes sensíveis como Botias, Labeos, Corydoras ou Cascudos a dose deve ser dividida por 2.
2°,3° e 4° dias do tratamento.
Deixe a medicação agir.
5° dia do tratamento.
Sifonagem do substrato e TPA de 50%, repondo o medicamento perdido.
6°, 7° e 8° dias.
Deixe a medicação agir mesmo que já não existam pontos brancos em seus peixes.
9° dia.
Sifonagem do substrato e TPA de 50%, repondo o medicamento perdido.
10º, 11º e 12º dias.
Deixe a medicação agir.
13° dia.
Sifonagem do substrato e TPA de 50%, repondo o medicamento perdido.
14º, 15º e 16º dias.
Deixe a medicação agir. A essa altura os pontos brancos já devem ter desaparecido e os peixes não mais se esfregam em troncos, pedras ou substrato.
17º dia.
Supondo que os sintomas externos já tenham desaparecido a pelo menos 2 dias, fim do tratamento!
Faça uma nova TPA de 50% com sifonagem, coloque carvão ativo em seu filtro e acenda as luzes.
O melhor tratamento sempre é a prevenção!
Evite introduzir peixes recém adquiridos no aquário. Uma quarentena é desejável. Durante este tempo poderemos observar os novos peixes e se necessário tratá-los antes da introdução no aquário principal.
Nunca coloque água de outro aquário no seu por mais confiável que lhe possa parecer.
Com este pequeno texto espero ajudar alguns aquariofilistas no tratamento do ictio. Assim que surgir a doença não se deve entrar em pânico e proceder por impulso colocando medicamentos no aquário. Deve-se começar por aumentar lentamente a temperatura da água até ela atingir os 29ºC e esperar que a doença dê sinais de retroceder respeitando o período de 18 dias. Só no caso de se detectar a doença já em fase avançada será necessário recorrer a medicamentos. Sobre possíveis perdas de peixes e/ou de plantas, cabe ao aquarista avaliar sua prioridade. Íctio é uma doença que se não for tratada rápido e de forma eficaz pode dizimar toda a fauna do aquário em poucos dias. Sendo assim, cada aliado que tivermos para debelar tal doença deve ser usado.
Site Pesquisados:
http://www.ciclideos.com
http://www.forumaquario.com.br